6 de maio de 2010

A ÉTICA SOCRÁTICO-PLATÔNICA

1 INTRODUÇÃO


A Ética, que é a ciência da moral, buscou orientar a conduta do homem como um ser integrante de um Estado, de um Cosmo e de um grupo social-religioso. A importância da ética filosófica numa pesquisa científica concerne a uma trajetória do pensar e do agir do homem em todos os tempos.
O mundo antigo, isto é, o período pré-socrático continha imagens de homens bons, que agiam de certa forma “corretamente”, mas de onde surgiam as essências de suas ações ou de onde provinham as virtudes praticadas antes do termo, conceito ‘ética’ ser construído, elaborado?
O presente trabalho visa analisar, compreender e explicar a relação da construção da ética socrático-platônica. Neste momento da história, antes de Sócrates e de Platão, não havia estruturas sólidas que compunham um agir rígido para toda sociedade/polis, pois, a Ética sempre procurou orientar e encontrar soluções para os problemas básicos das relações entre os homens. Nesta perspectiva observaremos o contexto histórico do saber ético que foi o primeiro meio donde surgem os questionamentos sobre as condutas da sociedade, ou melhor, da polis.
Sócrates em seu contexto aplica seu método de uma razão argumentativa e esgotativa para trazer a humanidade o conhecimento de si mesmo, tentando elevar no homem o bem que ele possui dentro de si e assim, praticar uma conduta que aja dentro do coletivo.
Sócrates racionaliza a Ética e preconiza uma concepção do bem e do mal e da areté (da virtude). A ética socrático-platônica se iniciou através de uma metodologia dialógica pela qual Sócrates, a personagem principal dos diálogos platônicos.
Platão, reconhecidamente continuador da ética socrática, tem como idéia diretriz de seu pensamento ético, a ordem (kosmos). A ordenação é dada por sua teoria das idéias; o mundo perfeito e imutável das idéias tem efetividade enquanto um modelo (paradigma) que serve como referência, como medida do mundo mutável e imperfeito.
Desta maneira, a construção da ética socrático-platônica traz para todos os tempos, até hoje a visualização de fazer o bem e evitar o mal pra felicidade.
2 A ÉTICA SOCRÁTICO-PLATÔNICA


2.1 PRINCÍPIOS HISTÓRIOCOS DOS MOLDES PARA A ELABORAÇÃO DA ÉTICA


Na história da humanidade, a reflexão filosófica sobre a ética sempre esteve presente em todas as sociedades e culturas. Ainda que não se concentrasse em um corpo organizado de princípios teóricos racionais, os valores morais já prescreviam a identidade de um ethos na história.

A Ética se origina, pois, do saber ético. Ela não é, em suma, senão o próprio saber ético de determinada tradição cultural que, numa conjuntura específica de crise do ethos, recebe uma nova expressão tida como capaz de conferir-lhe uma nova e mais eficaz força de persuasão, no momento em que suas expressões tradicionais, a religião e a sabedoria de vida, perdiam pouco a pouco a credibilidade. (LIMA VAZ, 2008, p.57).

Essa forma do saber ético, como um saber tradicional encontrado nas primeiras civilizações, prescreveu as categorias fundamentais da ética filosófica.
A Ética, que é a ciência da moral, buscou orientar a conduta do homem como um ser integrante de um Estado, de um Cosmo e de um grupo social-religioso. Essa ciência estendeu sua reflexão axiológica ao se direcionar às ciências particulares e técnicas que hoje, no século XXI, ampliou o quadro de discussões para a legitimação das normas morais, a fim de conceder um melhor convívio nos grupos sociais e planetário.

A característica mais original da práxis humana reside, sem dúvida, no fato de que o homem não opera senão a partir do prévio conhecimento do objeto de seu operar. Esse conhecimento não é uma simples representação como pode ocorrer na fantasia animal, mas é um processo de assimilação ativa do real que torna possível uma atitude crítica ou judicativa do cognoscente em face do objeto conhecido. (LIMA VAZ, 2008, p.45).

A importância da ética filosófica numa pesquisa científica concerne a uma trajetória do pensar e do agir do homem em todos os tempos. Ela expressa não somente os anseios e problemas oriundos de cada época, mas expressa a organização política, social e religiosa de uma cultura e nação. O “comportamento moral é próprio do homem como ser histórico, social e prático, isto é, como um ser que transforma conscientemente o mundo que o rodeia” (LIMA VAZ, 2008, p.58). Com isso, o estudo da ética, fundamentado na filosofia, proporciona o conhecimento holístico do ser humano, como ser de ação, racional e social.
A Ética filosófica sempre procurou orientar e encontrar soluções para os problemas básicos das relações entre os homens. Desde a Grécia Antiga à Contemporaneidade, a Ética foi discutida, elaborada e referenciada por muitos filósofos.

[...] o pensamento ético [...] encontrou nos últimos tempos da filosofia pré-socrática poderosas expressões sobretudo nas obras de Heráclito e Demócrito, e alcançou uma avançada instrumentação lógica na crítica dos Sofistas à moral tradicional, cuja influência foi decisiva na gênese do pensamento ético socrático-platônico. (LIMA VAZ, 2008, p.93).

Assim, separar, no desenvolvimento do corpo doutrinal da ética, o que é verdadeiramente de Platão e o que é realmente de Sócrates, convoca-nos a uma busca árdua, pois, podemos enumerar alguns pontos aos ensinamentos éticos socráticos, recordando que Sócrates nada escreveu, devido a isso, a influência platônica é vasta, mas isso não caracteriza que não podemos falar de ética socrática.


2.2 O CONCEITO ÉTICA DE SÓCRATES, PLATÃO E ARISTÓTELES

Com a decadência dos Estados gregos, a reflexão da ética filosófica toma novas direções: de uma moral da pólis para uma moral do universo. Assim, o estoicismo (representado por Sêneca e Epitelo) e o epicurismo (por Epícuro e Tito) tomam a natureza (a física) como referência para a moral.
Para o estoicismo, Deus é a “razão final” do Cosmo. Nada acontece que não esteja determinado por ele. E é para ele que todo indivíduo é destinado. Portanto, “o bem supremo é viver de acordo com a natureza, ou seja, de acordo com a razão”.
Os epicuristas acreditam que o átomo é o grande ordenador de tudo quanto existe. O homem é protagonista de sua vida, pois não há determinações divinas em suas ações. Por isso, o “bem viver” se resume na procura do prazer espiritual.
Sócrates racionaliza a Ética e preconiza uma concepção do bem e do mal e da areté (da virtude). Pois, os socráticos menores deixaram fragmentos, mas são marcas de Sócrates, e nenhum deles propôs um sistema ético maior/melhor do que o socrático-platônico.
Entretanto, Aristóteles, reconhece em Sócrates a consolidação de princípios éticos para o mundo, que antes, possuía conceitos desfigurados neste assunto (moral/ética). “Numa perspectiva de história das idéias éticas devemos, sem dúvida, dar primazia ao Sócrates platônico, pois foi este que Aristóteles reconheceu como iniciador da Ética [...]” (LIMA VAZ, 2008, p.94).
Em Platão, a Ética ganha fôlego na política a partir de uma concepção metafísica e da sua doutrina da alma.
A idéia diretriz do pensamento ético de Platão, na qual se entrecruzam a significação ética e a significação metafísica, é a idéia de ordem (taxis). É ela que permite a unificação, sob a égide [escudo] da teoria das Idéias, da Ética, da Política e da Cosmologia, assegurando a justa medida da arete ao indivíduo e à cidade e guiando o Demiurgo na construção de um kosmos harmonioso. (LIMA VAZ, 2008, p.98).

Assim como Platão, Aristóteles fala do homem político, social, condenado a viver na pólis. Para Aristóteles, o homem deve cultivar a “justa medida”, que é o compêndio das virtudes éticas, pela qual são administrados os impulsos e as paixões. A justa medida “se traduz em um habitus e, portanto, constitui a personalidade moral do indivíduo. Aristóteles teoriza deste modo a máxima dos gregos: ‘Nada em demasia’”. (LIMA VAZ, 2008, p.111).

Para Aristóteles, enquanto a política tem como finalidade o bem coletivo a ética tem por finalidade o bem pessoal. A Ética é uma ciência muito pouco exata, uma vez que se ocupa de assuntos passíveis de modificação. A ética se dá na relação com o outro. Para determinar o bem que caracteriza a atividade própria dos humanos. (LIMA VAZ, 2008, p.115).

A razão deve dirigir e regular todos os atos humanos. E nisso consiste essencialmente a vida virtuosa. E, para ele, o fim último de uma vida virtuosa é ser feliz. Portanto, a felicidade tem que ser o correto desempenho do que lhes é próprio: o uso correto da razão.

3 A ÉTICA SOCRÁTICA


Numa perspectiva histórica das idéias éticas devemos dar precedência ao Sócrates da visão platônica, pois foi este Sócrates que Aristóteles distinguiu como pai da Ética.
O pressuposto básico da Ética de Sócrates – “que basta saber o que é bondade para que se seja bom” (LIMA VAZ, 2008, p.96) - pode parecer ingênuo no mundo de hoje, no qual já está profundamente gravado na nossa mente que só algum grau de repressão é capaz de evitar que o homem seja mau. Na sua época era uma noção perfeitamente coerente com o pensamento – ainda que não com a prática – da sociedade grega.
Antes dele não teria havido uma reflexão organizada sobre a ética e o "homem moral" a não ser o relativismo dos sofistas, neste sentido é inegável que ele é o "Pai da Ética.
A ética socrático-platônica se iniciou através de uma metodologia dialógica pela qual Sócrates, a personagem principal dos diálogos platônicos, investiga os demais personagens sobre os temas: 'homem interior' (psychê), 'verdadeira sabedoria' (sophrosyne) e 'virtude' (arete).

O cuidado do homem interior exige, antes de mais nada, o conhecimento de si mesmo, ou seja, o exercício de uma razão voltada para as 'coisas humanas'. Com objetivo de fazer um reconhecimento de si mesmo para desfazer a falsa imagem de si mesmo e evidenciar a própria ignorância sobre 'como devemos levar a vida', diz Sócrates: 'conheça-te a ti mesmo'. Reconhecer a própria ignorância torna-se uma "douta ignorância", esta é a verdadeira sabedoria, a partir dela pode-se conhecer a verdadeira virtude. (LIMA VAZ, 2008, p.96-97).

Sócrates ao interpelar os cidadãos de Atenas, procurava mostrar-lhes que o verdadeiro valor do homem reside no único bem inatingível pela inconstância da fortuna, a incerteza do futuro, a precariedade do sucesso, as vicissitudes da vida: o bem da alma.
O grande mérito de Sócrates é enfrentar de forma virulenta a hipocrisia da sociedade ateniense cuja resposta aos sofistas era apenas a reafirmação insincera dos velhos valores.
Sócrates defende a identidade entre os interesses individuais e os comunitários como único caminho para a felicidade, o que implica na valorização da bondade, da moderação dos apetites, na busca do conhecimento.

[...] os três temas fundamentais do ensino ético de Sócrates [...] se entrelaçam na doutrina que a historiografia usual consagrou como sendo a marca distintiva da ética socrática: a doutrina da virtude-ciência. Recebida por Platão e criticada por Aristóteles, ela passou a caracterizar o chamado intelectualismo moral de Sócrates, conhecido por suas conseqüências aparentemente paradoxais: (LIMA VAZ, 2008, p.96).

Sócrates ainda acentua alguns pontos que precisam ser trabalhados para a vivencia desta ética, ou seja, uma melhor concepção do que é o homem interior, isto é, a alma.

O tema do homem interior ou da “alma” (psyche) no sentido especificamente socrático, e que assinala uma profunda revolução no curso do pensamento antropológico grego, constitui o motivo dominante da interpelação dirigida por Sócrates aos cidadãos de Atenas, tendo em vista mostrar-lhes que o verdadeiro valor do homem reside no único bem inatingível pela inconstância da fortuna, a incerteza do futuro, a precariedade do sucesso, as vicissitudes da vida:o bem da alma. [...] No tema da psyche socrática, vemos lançando assim o pressuposto antropológico que acompanhará doravante, na variedade das mais diversas concepções do homem, a história da Ética. (LIMA VAZ, 2008, p.95-96).

Ainda, diz:

Ora, o cuidado do homem interior exige, antes de mais nada, o conhecimento de si mesmo, ou seja, o exercício da razão voltada prioritariamente para o próprio homem e para as coisas humanas [...] Sem essa catarse preliminar, destinada a desfazer a falsa imagem que cada um constrói de si mesmo ou a evidenciar a própria ignorância a respeito do que mais importa para a vida que é saber como devemos viver, a busca da definição da virtude não poderia ter lugar. [...] O reconhecimento da ignorância sobre si mesmo torna-se uma “douta ignorância”, a sabedoria verdadeira, e é essa sabedoria que constitui, paradoxalmente, o primeiro momento da ciência socrática e torna possível o aprendizado da verdadeira arete. (LIMA VAZ, 2008, p.95-97).

Assim, Sócrates ao estabelecer a necessidade do uso da razão para prática da virtude, inaugura a história da Ética como ciência do ethos, e essa será a marca indelével da sua origem socrática.

[...] o homem sábio é necessariamente bom, e o homem malvado é necessariamente ignorante, o sábio nunca faz o mal voluntariamente e somente o homem virtuoso é verdadeiramente feliz. [...] Aristóteles criticou justamente a pura e simples identificação da virtude com o saber. (LIMA VAZ, 2008, p.96-97).

Os sofistas responderam a esta questão considerando que a Ética era mera convenção social, Sócrates os refuta, afirmando que a aparente dissociação se dá justamente porque os homens não sabem o que realmente é a bondade. Esta noção perdida em meio à vaidade e a hipocrisia dominante a cegueira do homem, que ao invés de lutar por objetivos reais confunde-se na névoa das convenções sociais. Já se sente aqui o embrião da noção que Platão consolidará e generalizará na sua Alegoria da Caverna.
Assim ao mesmo tempo Sócrates busca uma volta às velhas tradições da Cidadania, mas para isto precisa voltar-se contra estas próprias tradições. Ele aceita os princípios gerais definidos por aquelas tradições, mas apenas como um conceito, uma categoria a ser investigada pela mente humana, rejeitando tanto a forma pela qual estes valores são apreendidos como o conteúdo usualmente atribuído a eles.
Assim ele ao mesmo tempo se contrapõe aos sofistas e aos tradicionalistas, aos primeiros por negarem uma realidade objetiva e universal aos valores éticos, aos segundos por não serem capazes de compreender a essência destes valores.
O problema ético, para Sócrates, é sobretudo, uma questão de definição de termos.

4 A ÉTICA PLATÔNICA


Platão, reconhecidamente continuador da ética socrática, tem como idéia diretriz de seu pensamento ético, a ordem (kosmos). A ordenação é dada por sua teoria das idéias; o mundo perfeito e imutável das idéias tem efetividade enquanto um modelo (paradigma) que serve como referência, como medida do mundo mutável e imperfeito.

Platão [...] não dedicou nenhum de seus diálogos à Ética como tal, [...] mas [...] todo o pensamento platônico, desde os imensos horizontes que abrange, retorna sempre à questão socrática, reproposta solenemente a Trasímaco no diálogo que a tradição colocou como prólogo da República: investigar no logos como devemos viver. (LIMA VAZ, 2008, p.97-98).

A idéia da ordem exprime essencialmente uma proporção (analogia) que une elementos e seres diversos no mais belo dos laços e será, portanto, uma relação analógica que Platão irá estabelecer entre as partes da alma e suas virtudes, entre a alma e a cidade e entre a alma e o mundo.
Esta é a proporção: as virtudes da alma estão para a alma assim como a cidade bem ordenada está para o mundo (enquanto cosmos). Esta analogia para Platão serve como um 'argumento lógico' que prova sua teoria.

A idéia diretriz do pensamento ético de Platão, na qual se entrecruzam a significação ética e a significação metafísica, é a idéia de ordem (taxis). É ela que permite a unificação, sob a égide [escudo] da teoria das Idéias, da Ética, da Política e da Cosmologia, assegurando a justa medida da arete ao indivíduo e à cidade e guiando o Demiurgo na construção de um kosmos harmonioso. (LIMA VAZ, 2008, p.98).

O eixo da ampla reforma sugerida por Platão para construir a sociedade perfeita é a substituição da oligarquia que reinava na Atenas Imperial dos mercadores por uma timocracia, na qual os governantes seriam os melhores dentre os homens de seu tempo em termos de conhecimento e sabedoria.
Nas implicações da utopia platônica é necessário limitar ao mínimo a propriedade, extinguir as unidades familiares de forma a garantir que todos se sintam irmãos de fato porque criados pelo Estado, não por famílias. Ele não se propõe a eliminar os mercadores e agricultores, mas limitar-lhes a ação e, sobretudo, privar-lhes por completo do poder político. Não seria imposta a dura disciplina da posse em comum das mulheres, das dietas e exercícios rigorosos, mas exige-se obediência à lei dura e às ordens dos Guardiões, a elite dirigente da lei e os governantes que seriam os Filósofos, que elaborariam as leis.

O modelo aparece como a concretização de determinado momento do lógico. Assim, o modelo do Guardião é exigido pela lógica da ordem na cidade; e o modelo do Filosofo, pela necessidade de conhecer o fundamento último da ordem e, portanto, da justiça. [...] a vida ética não é um dom da natureza [...] mas fruto de um longo [...] processo educativo. [...] só ao Filósofo pertence conhecer as Idéias e a Idéia suprema do Bem, e [...] a Cidade justa não é senão a “imitação” da Cidade ideal, toda iluminada pelo sol do Bem [...]. (LIMA VAZ, 2008, p.103.105).

Sobre estes Guardiões pesa tal grau de regras e responsabilidades que a escolha deixa de ser um privilégio para tornar-se um sacrifício, exigindo perfeita identidade entre o bem comum e a satisfação pessoal.
Insatisfeito com os rumos da polis, Platão concebe um sistema de governo no qual a educação universal – rígida e valorizada – serve tanto como elemento selecionador de quais elementos entrarão na classe dos Guardiões, como elemento da formação destes guardiões.
No pensamento de Platão o reencontro da ética e da realidade se dá através de uma grande reforma social, política e econômica que torne a cidade mais simples, mais desligada dos valores materiais, mais igualitária. A preservação desta nova cidade só poderia ser feita se o poder fosse centralizado nesta classe dominante dos guardiões e o Filósofo que governaria a polis.
O problema do ethos e da práxis, transposto ao plano do logos filosófico e de suas exigências, mostra-se assim solidário com uma concepção da realidade total é essa solidariedade entre o Bem e o Ser que permite a Platão propor o primeiro grande modelo ético da história.

[...] o problema da conciliação entre liberdade e a necessidade [...] subjaz à concepção da Ética platônica como ciência que deverá integrar a virtude na sua ordem de razões [...] ninguém é virtuoso sem ser livre e ninguém é virtuoso sem ser sábio. Como o virtuoso, ou o homem bom e justo, sendo sábio, pode ser livre? (LIMA VAZ, 2008, p.99).

Platão responde que o conhecimento da ordem implica o conhecimento do Bem, do qual deriva, e o conhecimento das realidades a serem ordenadas.
A ordem irá assegurar assim a unidade das partes na constituição do todo, consistindo, pois, a ordem em cumprir cada uma das partes o que lhe é próprio e transluzir a presença o Bem.

Para a execução desse grande desenho, Platão tem diante de si três tarefas teóricas: a) A primeira de filosofia política [...] uma polis que seja a imagem da polis ideal [...]. b) A segunda antropológica [...] deve mostrar como se reflete na estrutura da alma individual a ordem da cidade justa [...]. c) A terceira [...] em dois planos: [...] ontológico [...] acerca do fundamento último da justiça [...] outro gnosiológico, que deve descrever o caminho do conhecimento que leva à Idéia do Bem. (LIMA VAZ, 2008, p.101-102).

A resposta está na tradição grega, trazendo consigo a experiência da liberdade como confronto com o Destino e como liberdade política na polis, já distinguira as três formas de liberdade em toda tradição ética posterior: a liberdade de arbítrio[1], agir segundo o simples arbítrio de cada um; a liberdade de escolha[2] acompanhada de uma deliberação da razão; e a liberdade de autonomia[3] que consiste na perfeita identificação da liberdade com o Bem.
O saber pragmático dos gregos (herança mitológica), como 'sabedoria', 'virtude', 'lei' e 'justiça', foi re-atualizado por Sócrates como 'ciência da alma'. E para Platão esta ciência torna-se 'metafísica da ordem'; que significa: a ordem da cidade que se dá no cumprimento à lei, na implantação da justiça, no agir honesto e solidário, está referida à perfeição e universalidade das idéias.
Para Platão, uma pessoa que conheça a essência da bondade sabe que só pode ser feliz se agir corretamente.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Desde o principio, não tínhamos uma idéia do que fosse ética, só a partir de Sócrates que as idéias são unidas aos termos “morais” não esclarecidos plenamente e são elaborados os moldes para a conduta do homem: fazer o bem e evitar o mal.
Platão por sua vez, sendo aluno de Sócrates, dá um passo a frente das concepções éticas de seu mestre, contudo, não determinando nenhuma linha nitidamente sobre ética, em seu pensamento, nas entrelinhas, dá continuidade ao caminhar ético socrático, apesar de que, Platão eleva a herança de Sócrates a uma altitude especulativa com a qual o mestre provavelmente jamais sonhara, através do Mundo das Idéias.
Assim, podemos considerar a concepção essencial da ética de Sócrates – segundo a qual basta saber o que é a bondade para ser bom – é também a concepção de Platão, mas com duas diferenças básicas.
Sócrates jamais exprimiu de forma objetiva o que ele entendia como bondade, deu apenas definições negativas do conceito demonstrando o caráter superficial deste e outros conceitos em sua época. Platão por sua vez define esta bondade como sendo a Idéia Geral de bondade. Para descobrir o que era a Bondade seria necessário afastar as sombras refletidas pelas convenções para chegar à noção em si da bondade.
A segunda diferença é que ao propor sua utopia, Platão esforça-se não para definir este conceito absoluto de bondade, ao menos para definir como seria uma sociedade na qual ela poderia prosperar.
O problema ético, para Sócrates, é, sobretudo, uma questão de definição de termos. Para Platão, uma pessoa que conheça a essência da bondade sabe que só pode ser feliz se agir corretamente.
Desta maneira, Sócrates, vê na razão argumentativa, isto é, na maiêutica o meio do homem buscar conhecer a si mesmo e buscar conhecer aquilo que é bom e esta em si interiormente e assim agir eticamente. Quanto Platão, busca no Demiurgo as vias para a construção da ética, mas aqui, no mundo físico, os passos são dados pela educação da polis, que gerará a conduta correta entre o coletivo e particular.

6 REFERÊNCIA

LIMA VAZ, Henrique C. de. Escritos de filosofia IV: introdução à ética filosófica 1. 4. ed. São Paulo: Loyola, 2008, 483 p.
[1] É uma forma corrupta da cidade democrática, onde cada um faz o que deseja.
[2] Esta inicia o verdadeiro caminho da liberdade, posto diante de cada um assumir racionalmente suas virtudes.
[3] O sujeito é plenamente livre do poder tirânico do Destino.

AVALIANDO A ARTE

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
CAMPUS MARINGÁ
LICENCIATURA EM FILOSOFIA

Disciplina: Estética I
Docente: Prof. Dr. José Francisco de Assis Dias
Discente: Franciscarlo de Souza / Leandro Assis dos Santos

AVALIANDO A ARTE

Ü O que é arte? Arte é interpretação do mundo?
Ü Como o homem marca sua presença no mundo pela arte?
Ü Tudo é arte? Ou só o que está no museu? Quem escolhe o que vai para o museu?
Ü A arte com que nos deparamos torna-se um objeto artístico que fala à nossa imaginação?
Ü Do que precisamos para apreciar uma obra de arte?
Ü Como se pode dar a educação da sensibilidade artística?
Ü O que quer dizer “disponibilidade” para entender uma obra de arte?
Ü O ser humano marcar sua presença no mundo, criando objetos (quadros, filmes, músicas, esculturas, vídeos etc.) que oferecem uma interpretação da realidade tanto quanto uma frase;
Ü O objeto artístico fala à nossa imaginação, deixa ver/ouvir/sentir o que poderia ser;
Ü A função da arte e o seu valor não estão em copiar a realidade, mas sim na representação simbólica que cada artista faz do mundo humano;
Ü A arte é um dos modos pelos quais o ser humano atribui sentido à realidade que o cerca, assim, precisamos compreender a nossa realidade no geral;
Ü A sensibilidade só pode ser treinada através da familiaridade com muitas, inúmeras obras de arte;
Ü Disponibilidade é deixar os preconceitos de lado, e abrir-se ao desconhecido, pois nosso olhar completa a imagem;
Ü A arte é um dos modos simbólicos de que o ser humano se utiliza para atribuir significados ao mundo, mostrando por meio de um objeto as possibilidades do real.
Ü Analisar uma obra de arte é sempre um exercício de conhecimento e sensibilidade que alarga a nossa compreensão do real.

REFERÊNCIAS:

ARRUDA ARANHA, Maria L. de; MARTINS, Maria Helena P. Temas de filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 2002, 256 p.

KIVY, Peter (org.). Estética: fundamentos e questões de filosofia da arte. São Paulo: Paulus, 2008, 436 p. (Coleção Filosofia).

Apesar dos pecados, Igreja antecipa Jerusalém celeste


Homilia de Bento XVI no funeral do cardeal Mayer

CIDADE DO VATICANO, segunda-feira, 3 de maio de 2010 (ZENIT.org). - Apesar das limitações e dos pecados, a Igreja antecipa a Jerusalém celeste, afirmou Bento XVI nesta manhã de segunda-feira, na homilia da liturgia de exéquias do cardeal beneditino Paul Augustin Mayer.
A Missa foi celebrada na Basílica Vaticana pelo cardeal Angelo Sodano, decano do Colégio cardinalício, acompanhado por outros cardeais. O Papa presidiu a liturgia de exéquias, deu a homilia e conduziu os ritos da Ultima Commendatio e da Valedictio.

Toda liturgia de exéquias, lembrou o Pontífice, "se dá sob o símbolo da esperança: no último suspiro de Jesus na cruz, Deus se doou inteiramente à humanidade, preenchendo o vazio deixado pelo pecado e restabelecendo a vitória da vida sobre a morte".
"Por isso, todo homem que morre no Senhor participa, pela fé, deste ato de amor infinito e, de alguma forma, une seu espírito a Cristo, na segura esperança de que a mão do Pai o ressuscitará dos mortos e o introduzirá no Reino da vida", acrescentou.

"A grande e indefectível esperança, fundamentada na sólida rocha do amor de Deus, assegura-nos que a vida daqueles que morrem em Cristo não é tirada, mas transformada; e que enquanto se destrói nossa morada neste exílio terreno, é preparada uma habitação eterna no céu."
Em uma época como a atual, em que "o medo da morte leva muitos ao desespero e a buscar compensações ilusórias", o cristão "se distingue pelo fato de que deposita sua segurança em Deus, em um Amor tão grande que é capaz de renovar o mundo inteiro, observou o Pontífice.

Lembrando que "a visão da nova Jerusalém exprime a realização do desejo mais profundo da humanidade, o de viver em comunidade na paz, sem mais ser ameaçado pela morte, mas gozando de plena comunhão com Deus e entre nós", explicou que "a Igreja e, em particular, as comunidades monásticas, constituem uma prefiguração na terra desta meta final".
"É uma antecipação imperfeita, marcada por limitações e pecados e, portanto, sempre dependente de conversão e purificação; e, todavia, na comunidade eucarística se experimenta a vitória do amor de Cristo sobre tudo o que divide e mortifica."

Bento XVI então pronunciou algumas palavras em memória do cardeal Mayer, prefeito emérito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos e presidente emérito da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei, que na vida inteira "buscou realizar o que São Bento diz na Regra: ‘Que nada se anteponha ao amor de Cristo'".

O Papa Paulo VI o nomeou secretário da Congregação para os Religiosos e os Institutos Seculares e quis consagrá-lo pessoalmente bispo em 13 de fevereiro de 1972; em 1984, João Paulo II confiou-lhe o cargo de prefeito da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, nomeando-o cardeal no ano seguinte, em 25 de maio de 1985.
Em seguida, o Papa Wojtyła o nomeou como primeiro presidente da Comissão Pontifícia Ecclesia Dei. Também nesta nova função, "o cardeal Mayer se mostrou um zeloso e fiel servidor", comentou Bento XVI.

"Nossa vida está, a cada instante, nas mãos do Senhor, especialmente no momento da morte", concluiu o Santo Padre.

Através do ministério do sacerdote, Deus continua salvando

Papa dedica a audiência a refletir sobre a tarefa do presbítero de santificar os homens

CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 5 de maio de 2010 (ZENIT.org).- Através do ministério dos sacerdotes, Deus continua salvando a humanidade, assegurou Bento XVI na audiência geral de hoje.
Na reta final do Ano Sacerdotal, que terminará no dia 11 de junho, o Papa dedicou seu encontro semanal com os peregrinos a analisar a tarefa do sacerdote de santificar os homens através dos sacramentos e do culto.


"Caros amigos, sede cientes do grande dom que os sacerdotes representam para a Igreja e para o mundo; através de seu ministério, o Senhor continua a salvar os homens, a se fazer presente, a santificar", disse aos mais de 30 mil peregrinos presentes.
E acrescentou: "Sabei agradecer a Deus, e sobretudo, permanecei próximos de vossos sacerdotes com a oração e o apoio, especialmente nos momentos de dificuldade, para que sejam cada vez mais pastores segundo o coração de Deus".
Alertou sobre a tentação dever o sacerdote somente como quem apresenta um anúncio missionário, esquecendo que sua tarefa consiste, além disso, em santificar.
"Nenhum homem, por si mesmo, a partir de suas próprias forças, pode colocar alguém em contato com Deus. Parte essencial da graça do sacerdócio é o dom, a tarefa de criar este contato. Este se realiza no anúncio da Palavra de Deus, na qual sua luz vem ao nosso encontro. Realiza-se de um modo particularmente denso nos sacramentos", esclareceu.
"É necessário refletir se, em alguns casos, a subvalorização do exercício do munus sanctificandi não teria se refletido num enfraquecimento dessa mesma fé na eficácia salvífica dos sacramentos e, em definitivo, na atuação atual de Cristo e de seu Espírito através da Igreja, no mundo."
"Quem, assim, salva o mundo e o homem? A única resposta que podemos oferecer é: Jesus de Nazaré, Senhor e Cristo, crucificado e ressuscitado", afirmou.
"E onde se atualiza o mistério da morte e ressurreição de Cristo, que conduz à salvação? - acrescentou. Na ação de Cristo mediante a Igreja, em particular no sacramento da Eucaristia, que torna presente a oferenda sacrifical redentora do Filho de Deus, no sacramento da Reconciliação, no qual da morte do pecado volta-se para a vida nova, e qualquer outro ato sacramental de santificação."
Portanto, o Bispo de Roma pediu a promoção de "uma catequese adequada, a fim de auxiliar os fiéis a compreenderem o valor dos sacramentos, mas é também necessário, a exemplo de Santo Cura d'Ars, sermos disponíveis, generosos e atentos no doar aos irmãos os tesouros da graça que Deus colocou em nossas mãos, e das quais não somos "proprietários", mas tutores e administradores".
"Principalmente em nosso tempo, no qual, por um lado, parece que a fé está se enfraquecendo e, por outro, emerge uma necessidade profunda e uma busca difundida por espiritualidade, é necessário que cada sacerdote lembre que, em sua missão, o anúncio missionário, o culto e os sacramentos nunca estão separados, e que promova uma sã pastoral sacramental, a fim de formar o povo de Deus e ajudá-lo a viver em plenitude a liturgia, o culto da Igreja, os sacramentos como dons gratuitos de Deus, atos livres e eficazes de sua ação de salvação", assegurou.
Este foi o conselho do Papa aos mais de 400 mil sacerdotes do mundo: "Vivei com alegria e com amor a liturgia e o culto: é ação que o Ressuscitado cumpre na potência do Espírito Santo em nós e por nós".
Convidou-lhes a "voltar ao confessionário, como local nos qual se celebra o sacramento da Reconciliação, mas também como lugar a ser ‘habitado' com mais frequência, para que o fiel possa encontrar misericórdia, conselho e conforto, sentir-se amado e compreendido por Deus e experimentar a presença da Misericórdia Divina, junto à presença real na Eucaristia".
Por último, convidou cada sacerdote a "celebrar e viver com intensidade a Eucaristia, que está no coração da missão de santificar; é Jesus que deseja estar conosco, viver em nós, doar-se a si mesmo, mostrar-nos a infinita misericórdia e ternura de Deus".

12 de abril de 2010

Papa: missão da Igreja é anunciar amor misericordioso de Deus

Intervenção por ocasião do “Regina Caeli”
CASTEL GANDOLFO, domingo, 11 de abril de 2010 (ZENIT.org).- A missão da Igreja é mostrar o rosto misericordioso de Deus, recordou Bento XVI neste domingo, durante a oração do Regina Caeli, no Palácio Apostólico de Castel Gandolfo, onde está passando alguns dias de descanso, após as celebrações pascais.

O Papa recordou que o 2º domingo da Páscoa é chamado, desde a Antiguidade, de in albis, do nome latino alba, “dado pela vestidura branca que os neófitos usavam no Batismo, da noite da Páscoa”.

“O venerável João Paulo II – acrescentou – dedicou este mesmo domingo à Divina Misericórdia, por ocasião da canonização de Maria Faustina Kowalska, no dia 30 de abril de 2000.”
“Hoje, domingo, termina a Oitava da Páscoa, como um único dia ‘feito pelo Senhor’, marcado pelo distintivo da Ressurreição e pela alegria dos discípulos ao ver Jesus”, observou.

A passagem do dia, tomada do Evangelho de São João (20, 19-31), recorda a visita de Jesus aos discípulos, atravessando as portas fechadas do Cenáculo.
“Jesus mostra os sinais da Paixão, até permitindo ao incrédulo Tomé que os tocasse. Como é possível, no entanto, que um discípulo possa duvidar?”, perguntou-se o Papa.
“Na verdade, a condescendência divina nos permite tirar proveito também da incredulidade de Tomé, e não só dos discípulos crentes. De fato, tocando as feridas do Senhor, o discípulo vacilante cura não somente sua própria desconfiança, mas também a nossa.”

“A visita do Ressuscitado – prosseguiu – não se limita ao espaço do Cenáculo, mas vai além, para que todos possam receber o dom da paz e da vida com o ‘Sopro criador’.”
“De fato, em dois momentos, Jesus disse aos discípulos: ‘A paz esteja convosco’. E acrescentou: ‘Como o Pai me enviou, também eu vos envio.’ E, depois de ter dito isso, soprou sobre eles e disse: ‘Recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; a quem os não perdoardes, eles lhes serão retidos’.”

“Esta é a missão da Igreja, perenemente assistida pelo Paráclito: levar a todos o alegre anúncio, a gozosa realidade do amor misericordioso de Deus, ‘para que – como diz São João – acrediteis que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais a vida em seu nome’.”
À luz disso, no Ano Sacerdotal em curso, Bento XVI exortou particularmente “todos os pastores a seguirem o exemplo do Santo Cura de Ars, que, no seu tempo, soube transformar o coração e a vida de muitas pessoas, porque conseguiu fazer-lhes sentir o amor misericordioso do Senhor”.

“Também hoje é urgente igual anúncio e testemunho da verdade do Amor”, concluiu o Pontífice.
“Dessa forma, tornaremos cada vez mais familiar e próximo Aquele que nossos olhos não viram, mas de cuja infinita misericórdia temos certeza absoluta.”

29 de março de 2010

A JUSTIÇA: CAMINHO PARA QUARESMA.

Estamos na Quaresma, caminho de esperança, que culminará com a Ressurreição de Cristo. Este ano, Bento XVI propôs aos fiéis, na mensagem para a Quaresma 2010, uma meditação sobre o tema da justiça.

O Papa afirma que "aquilo de que o homem mais precisa não lhe pode ser garantido por lei. Para gozar de uma existência em plenitude, precisa de algo mais íntimo que lhe pode ser concedido somente gratuitamente: poderíamos dizer que o homem vive daquele amor que só Deus lhe pode comunicar".

O Papa conclui no primeiro ponto de sua reflexão: o ser humano, mais do que pão, "de fato precisa de Deus". Em outro ponto da mensagem, Bento XVI faz-nos pensar na injustiça do mal, ali onde se substituiu "a lógica de confiar no Amor" por "aquela da suspeita e da competição"; "a lógica do receber, da espera confiante do Outro", pela lógica "ansiosa do agarrar, do fazer sozinho (cfr Gn 3,1-6), experimentando como resultado uma sensação de inquietação e de incerteza".

Algumas passagens depois, o Papa nos ensina que, "para entrar na justiça, é portanto necessário sair daquela ilusão de auto–suficiência, daquele estado profundo de fechamento, que é a própria origem da injustiça. Em outras palavras, é necessário um ‘êxodo’ mais profundo do que aquele que Deus efetuou com Moisés, uma libertação do coração, que a palavra da Lei, sozinha, não tem o poder de realizar".

Inclusive o Papa afirma que "converter-se a Cristo, acreditar no Evangelho, no fundo significa precisamente isto: sair da ilusão da auto-suficiência para descobrir e aceitar a própria indigência – indigência dos outros e de Deus, exigência do seu perdão e da sua amizade".

Ao final da mensagem, Bento XVI diz que, "precisamente fortalecido por esta experiência, o cristão é levado a contribuir para a formação de sociedades justas, onde todos recebem o necessário para viver segundo a própria dignidade de homem e onde a justiça é vivificada pelo amor".

In: Zenit 24/03/2010
CNBB recorda Dom Oscar Romero
30 anos do assassinato do arcebispo salvadorenho

BRASÍLIA, quinta-feira, 25 de março de 2010 (ZENIT.org).- Os 30 anos do assassinato de Dom Oscar Romero, antigo arcebispo de San Salvador, foram celebrados com uma missa na CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil), nessa quarta-feira.

Segundo informa a CNBB, a celebração foi solicitada pela embaixadora de El Salvador no Brasil, Rina del Socorro Angulo Rojas, e aconteceu na capela da sede da conferência episcopal, em Brasília.

O bispo de São Felix do Araguaia (Mato Grosso), Dom Leonardo Ulrich Steiner, presidiu à celebração, junto ao secretário geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa.

A embaixadora de El Salvador disse que Dom Romero é modelo para o povo salvadorenho e que ele transcendeu as fronteiras de seu país. “Sua mensagem transcendeu as fronteiras; é uma mensagem universal a favor dos pobres. Ele provou isso com seu martírio”, disse.

Dom Dimas Lara, também destacou a ação de Dom Oscar Romero. “Dom Oscar Romero derramou seu sangue como consequência de sua coerência na busca da justiça. Sua morte foi um sermão muito mais eloquente do que tantas homilias que ele pronunciou. Ela coroa e sela o compromisso de Dom Romero no seguimento de Jesus até a cruz”, disse.

Segundo o secretário geral da CNBB, chama a atenção em Dom Oscar Romero a sua opção pela não violência. “Dom Romero se colocou na defesa da justiça, mas se recusou a usar a violência até mesmo contra os próprios algozes”.

No dia 24 de março de 1980, Dom Oscar Romero foi assassinado na Capela do Hospital da Divina Providência, em San Salvador, enquanto celebrava a eucaristia.

Em 2009, o presidente de El Salvador, Mauricio Funes, reconheceu a responsabilidade do Estado salvadorenho no crime de Dom Romero.
A Carta de Bento XVI aos católicos da Irlanda

Por Dom Antonio Carlos Rossi Keller
BRASÍLIA, domingo, 28 de março de 2010 (ZENIT.org).- Apresentamos artigo de Dom Antonio Carlos Rossi Keller, bispo da diocese de Frederico Westphalen (Rio Grande do Sul, Brasil), enviado a ZENIT nessa semana, intitulado "A Carta de Bento XVI aos católicos da Irlanda".
* * *
Nos últimos dias, ante o assombro em relação à questão dos abusos sexuais cometidos por alguns eclesiásticos, na Irlanda, o Papa Bento XVI, como pastor zeloso da Igreja espalhada por todo o mundo, dirigiu uma Carta aos católicos daquele país, que representa, na verdade, o posicionamento da Igreja Católica frente a estas tristes realidades.
Após salientar a importância da Igreja Católica na Irlanda, país que ainda hoje tem milhares de missionários espalhados pelo mundo, e com uma vida eclesial interna muito viva e bonita, o Santo Padre fala de sua proximidade paterna na oração a toda a comunidade católica irlandesa, neste tempo cheio de amargura e de tristeza. Além disso, o Papa Bento XVI propõe um verdadeiro caminho de cura, de renovação e de reparação pelo mal realizado por uma ínfima parte desta Igreja.
Segundo a reflexão do Santo Padre, há alguns fatores que levaram ao surgimento desta triste realidade: a insuficiente formação moral e espiritual nos seminários e noviciados (ou seja, o descuido na seleção dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa), além de uma mentalidade errônea em relação ao pretender evitar escândalos.
Alguns foram acobertados por este tipo de silêncio, que pretende ser como que uma defesa em relação à Igreja. O Papa convida toda a Igreja na Irlanda a refletir com seriedade, para descobrir as verdadeiras causas desta lamentável situação.
O Santo Padre dirige suas palavras e atenção a todos os membros desta Igreja. Em primeiro lugar aos bispos, para que se esforcem em “estabelecer a verdade de quanto tenha acontecido no passado, a tomar todas as medidas adequadas para evitar que se volte a repetir no futuro, a garantir que os princípios de justiça sejam plenamente respeitados e, sobretudo, curar as vítimas e quantos são atingidos por estes crimes abnormes”
Dirigindo-se às vítimas destes abusos, o Papa expressa sua tristeza e desolação pelo imenso sofrimento causado por alguns poucos eclesiásticos infiéis à sua vocação. Pede que, como cristãos que são, mesmo sendo vítimas, perdoem a Igreja e com ela se reconciliem. O Papa exorta as vítimas a procurar na Igreja a oportunidade de buscar Jesus Cristo e de encontrar restabelecimento e reconciliação redescobrindo o amor infinito que Cristo tem por todos eles.
Nas suas palavras aos sacerdotes e aos religiosos que cometeram abusos sobre os jovens, o Papa recorda-lhes “que devem responder diante de Deus e dos tribunais devidamente constituídos, pelas ações pecaminosas e criminais que cometeram. Atraiçoaram a confiança sagrada e lançaram vergonha e desonra sobre os seus irmãos. Foi causado um grave dano não só às vítimas, mas também à percepção pública do sacerdócio e da vida religiosa na Irlanda. Ao pretender que eles se submetam às exigências da justiça, recorda-lhes que não devem desesperar da misericórdia de Deus, que ele oferece livremente também aos maiores pecadores, se se arrependem das suas ações, se fazem penitência e se com humildade imploram perdão” (Apresentação da carta do Papa aos católicos da Irlanda).
Em relação aos pais, o Papa insiste na difícil tarefa que se constitui hoje o “educar”. Cabe aos pais a responsabilidade primária de educar seus filhos nos princípios morais que constituem a base fundamental para uma vida feliz e sadia. O convite do Santo Padre estende-se às crianças e jovens, que podem confiar na Igreja, para encontrar uma ocasião para um verdadeiro encontro com Cristo, não se deixando desanimar pelo mau exemplo de alguns poucos sacerdotes e religiosos. Também o Santo Padre dirige-se aos sacerdotes e religiosos da Irlanda, que na sua imensa maioria é fiel a seus compromissos sacerdotais e à vida religiosa, para que não percam a coragem e continuem a dedicar suas vidas aos apostolados assumidos. Aos bispos do país, o Santo Padre indica que o silêncio de alguns, procurando esconder estes fatos lamentáveis levou a uma perda de credibilidade para com toda a Igreja. Eles são convidados a esforçar-se com determinação a corrigir erros do passado e a se prevenirem contra a possibilidade da repetição destes mesmos erros.
Finalmente, o Papa propõe alguns remédios para estimular uma renovação da Igreja na Irlanda. Pede a todos que ofereçam as suas penitências da sexta-feira, durante o período de um ano, em reparação pelos pecados de abuso que se verificaram. Recomenda que recorram com freqüência ao sacramento da reconciliação e à prática da adoração eucarística. Anuncia a intenção de estabelecer uma Visita Apostólica a algumas dioceses, congregações religiosas e seminários, com o envolvimento da Cúria Romana, e propõe uma Missão a nível nacional para os bispos, os sacerdotes e os religiosos na Irlanda. Neste Ano dedicado em todo o mundo aos Sacerdotes, apresenta a pessoa de São João Maria Vianney como modelo e intercessor para um ministério sacerdotal revivificado na Irlanda. Depois de ter agradecido a quantos se empenharam com prontidão para enfrentar decididamente o problema, conclui propondo uma Oração pela Igreja na Irlanda, que deve ser usada por todos os fiéis para invocar a graça do restabelecimento e da renovação neste tempo de dificuldades.
Assim, com coragem, determinação e espírito de fé, o Papa Bento XVI expressa aquilo que todos nós católicos, do mundo inteiro, pensamos e desejamos em relação a estes tristes casos acontecidos não só na Irlanda, mas também em alguns outros lugares.
Com o Papa, todos desejamos uma Igreja sempre e cada vez mais fiel a Cristo e coerente com a Sua Boa Nova. Rezemos pela Igreja, para que este momento de sofrimento e contradição sirva como uma autêntica purificação.
Dom Antonio Carlos Rossi Keller
Bispo de Frederico Westphalen (RS)
Papa a jovens: descobrir vocação ao amor
O chamado ao sacerdócio ou ao matrimônio, segundo Bento XVI
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 24 de março de 2010 (ZENIT.org).- O Papa convidou os jovens a descobrirem sua própria vocação, que é sempre “ao amor”, ainda que se expresse de forma concreta em estados de vida diferentes.
Em sua mensagem aos participantes do 10º Fórum Internacional dos Jovens, que está sendo realizado na localidade italiana de Rocca di Papa, sobre o tema “Aprender a amar”, o Papa afirma que o amor “é central na fé e na vida cristã”.
Na mensagem, divulgada hoje, o Pontífice afirma que, “pelo fato de que Deus é amor e o homem é à sua imagem e semelhança, compreendemos a identidade profunda da pessoa, sua vocação ao amor”.
“O homem foi feito para amar; sua vida se realiza plenamente só quando vive no amor”, sublinhou.
Neste sentido, instou os jovens a “descobrirem sua vocação ao amor, como pessoas e como batizados. Esta é a chave de toda a existência”.
Esta vocação “assume diferentes formas, segundo os estados de vida”. Uma delas é o sacerdócio: “Chamados por Deus para entregar-se inteiramente a Ele, com coração íntegro, as pessoas consagradas no celibato são um sinal eloquente do amor de Deus para o mundo e da vocação a amar a Deus acima de tudo”.
Outra é o matrimônio, do qual o Papa convidou a “descobrir sua grandeza e beleza”. “A relação entre o homem e a mulher reflete o amor divino de maneira completamente especial; por isso, o vínculo conjugal assume uma dignidade imensa”.
“Em um contexto cultural em que muitas pessoas consideram o casamento como um contrato temporal que pode ser rompido, é de vital importância compreender que o verdadeiro amor é fiel, dom de si definitivo”, sublinhou.
Esta fidelidade não é impossível, pois “Cristo consagra o amor dos esposos cristãos e se compromete com eles”; assim, a fidelidade “é o caminho para entrar em uma caridade cada vez maior. Dessa forma, na vida cotidiana de casal e de família, os esposos aprendem a amar como Cristo ama”.
Bento XVI concluiu sua mensagem marcando um encontro com os jovens, na Praça de São Pedro, onde se levará a cabo a solene celebração do Domingo de Ramos e da 25ª Jornada Mundial da Juventude.
“Este ano, o tema de reflexão é ‘Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna?’. A esta pergunta, apresentada por um jovem rico, Jesus responde com um olhar de amor e um convite à entrega total de si, por amor a Deus. Que este encontro possa contribuir para a resposta generosa de cada um ao chamado e aos dons do Senhor!”, acrescentou.

22 de março de 2010

Bento XVI: amar o pecador, condenar o pecado
Palavras do Papa ao recitar a oração do Angelus
CIDADE DO VATICANO, domingo, 21 de março de 2010 (ZENIT.org).- Às 12 horas de hoje, quinto domingo de Quaresma, o Santo Padre Bento XVI foi à janela de seus aposentos no Palácio Apostólico Vaticano para recitar a oração do Angelus junto aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.
***
Caros Irmãos e Irmãs!
Estamos reunidos neste Quinto Domingo de Quaresma, cuja liturgia nos propões, neste ano, o episódio evangélico em que Jesus salva uma mulher adúltera condenada à morte (Jo 8,1-11).
Enquanto ensinava no Templo, os escribas e fariseus conduzem a Jesus uma mulher flagrada em adultério, para o qual a lei mosaica previa a pena de apedrejamento. Estes homens pedem a Jesus que julgue a pecadora, com o intuito de testá-lo e de induzi-lo a se contradizer. A cena é carregada de dramaticidade: das palavras de Jesus depende a vida daquela pessoa, mas também sua própria vida. Os acusadores hipócritas, de fato, fingem confiar a ele o juízo, quando, na verdade, é justo Ele a quem pretendem condenar. Jesus, porém, “é cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14): Ele sabe o que está no coração de cada homem, quer condenar o pecado, mas quer salvar o pecador, e desmascarar a hipocrisia. O evangelista São João dá destaque a um ponto em particular: enquanto os acusadores o interrogam com insistência, Jesus se agacha e se põe a escrever com o dedo na terra. Observa Santo Agostinho que este gesto mostra Cristo como legislador divino: de fato, Deus escreveu a lei com seu dedo sobre as tábuas de pedra (cfr Comm. al Vang. di Giov., 33, 5). Jesus, portanto, é o Legislador, é a Justiça em pessoa. E qual é sua sentença? “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra!”. Estas palavras estão plenas da força desarmante da verdade, que abate o muro da hipocrisia e abre a consciência a uma justiça maior, aquela do amor, à qual corresponde o pleno cumprimento de qualquer preceito (cfr Rm 13,8-10). Foi a justiça que salvou Paulo de Tarso, transformando-o em São Paulo (cfr Fil 3,8-14).
Quando os acusadores “foram saindo um por um, a começar pelos mais velhos”, Jesus, absolvendo a mulher de seu pecado, a introduz em uma nova vida, orientada para o bem: “Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais”. É a mesma graça que fará o Apóstolo dizer: “uma coisa, porém, faço: esquecendo o que fica para trás, lanço-me para o que está à frente. Lanço-me em direção à meta, para conquistar o prêmio que, do alto, Deus me chama a receber no Cristo Jesus” (Fil 3,14). Deus deseja para nós apenas o bem e a vida; Ele provê a saúde de nossa alma por meio de seus ministros, libertando-nos do mal com o Sacramento da Reconciliação, para que nenhum venha a se perder, mas que todos tenhamos meios de nos convertermos. Neste Ano Sacerdotal, desejo exortar os Pastores a imitarem o santo Cura d’Ars no ministério do Perdão sacramental, para que assim os fiéis redescubram seu significado e sua beleza, e sejam curados pelo amor misericordioso de Deus, o qual “é capaz até de esquecer voluntariamente o pecado, para nos perdoar” (Carta de proclamação do Ano Sacerdotal).
Caros amigos, aprendamos com o Senhor Jesus a não julgar e não condenar o próximo. Aprendamos a ser intransigentes com o pecado – a começar pelo nosso! – e indulgentes para com as pessoas. Que nos ajude a santa Mãe de Deus, que, isenta de toda culpa, é mediadora de graça para todo pecador arrependido.

A NATUREZA HUMANA

A Natureza Humana


Franciscarlo de SOUZA[1]

Resumo

O presente artigo tem como objetivo abordar os pontos referentes ao conhecimento da Natureza Humana, para nossa melhor compreensão, tendo em vista a elaboração deste conceito de Natureza no pensamento de Aristóteles, sua fundamentação em Tomás de Aquino e sua discussão nos pensadores; Boaventura de Bagnoregio, João Duns Escoto, Guilherme de Ockham e Mestre Eckhart.

Palavras-chave: Natureza. Homem. Existência. Essência.







1. A Concepção de Natureza Humana nos Pensadores Antigos e Medievais


1.1 A “natura” e o Homem


Buscaremos tratar do conceito de Natureza no seu sentido latino natura, assim iremos nos aprofundar nas concepções que foram se formulando no contexto da história do Homem, da Filosofia.
Contudo, precisamos inicialmente para definir este termo expor uma variedade de conceitos que se tem uma relação entre si. “1º principio do movimento ou substância; 2º ordem necessária ou conexão causal; 3º exterioridade contraposta à interioridade da consciência; 4º [...] unificação de certas técnicas de investigação[2]”.

[...] A interpretação da N. como princípio de vida e de movimento de todas as coisas existentes é a mais antiga e venerável, tendo condicionado o uso corrente do termo. ‘Permitir a ação da N.’, ‘Entregar-se à N.’, ‘Seguir a N.’, e assim por diante, são expressões sugeridas pelo conceito de que a N. é um princípio de vida que cuida bem dos seres em que se manifesta. [...] A segunda concepção fundamental de N. considera-a como ordem e necessidade. A origem dessa concepção esta nos estóicos, para os quais ‘a N. é a disposição a mover-se por si segundo as razoes seminais, disposições que leva a cabo e mantém unidas todas as coisas que dela nascem em tempos determinados e coincide com as próprias coisas das quais se distingue’ [...] Nesta definição é acentuada a regularidade e a ordem do devir à qual a N. preside. A este conceito de N. está ligada a noção de lei natural, que, da Antiguidade ao séc. XIX, teve grande importância na moral e no direito. [...] Para a terceira concepção, N. é a manifestação do espírito, ou um espírito diminuído ou imperfeito, que se tornou ‘exterior’, ‘acidental’ ou ‘mecânico’, ou seja, foi degradado de seus verdadeiros caracteres. [...] A quarta concepção de N. pode ser discernida de modo implícito ou na forma de pressuposto na prática efetiva da pesquisa científica [...] a N. é definida em termos de campo, mas precisamente o campo ao qual fazem referência e em que se encontram [...] as técnicas perceptivas e de observação que o homem dispõe [...][3].

Dentro destas concepções vê-se a finalidade ou as possíveis finalidades as quais a Natureza se insere, mas para melhor conhecermos a concepções de natura ao qual nos determinamos, procurar-se-á não a primeira noção que temos de que a noção de ser por natureza aproximava-se da noção de ter algo próprio de “si e por si[4]”, mas nos conceitos que Aristóteles define para se entender o que é “natureza”. Vejamos o que Estágirita escreveu a respeito dos vários sentidos para natureza:

E natureza não é só a matéria primeira (e esta é “primeira” em dois sentidos: ou é primeira em ao próprio objeto, ou é primeira em geral; por exemplo, no caso dos objetos de bronze, o bronze é matéria primeira desses objetos, enquanto matéria geral é, talvez, a água, se admitirmos que tudo que se dissolve é água), mas também a forma e a substância: esse é o fim da geração. [...] Do que se disse fica claro que a natureza, em seu sentido originário e fundamental, é a substância das coisas que possuem o princípio do movimento em si mesmo e por sua essência [...][5].

Com isso, podemos nos dirigir à natureza referente à matéria, mas só enquanto ela for capaz de acolher este princípio de seu próprio movimento, ou ainda a mudança ao crescimento, e estes, enquanto são movimentos precedentes deste princípio. Logo, Natureza é um princípio e uma causa de movimento e repouso para coisa[6] na qual reside imediatamente por si mesma e não por acidente[7].
O que pode ser certamente observado neste pensamento metafísico de Aristóteles é que a natureza é ao mesmo tempo causa e substância, sendo a causa por sua vez, eficiente e final. Não obstante, estes termos nos levam a um caminho pouco percorrido pelos filósofos, o de olhar para dentro de si, e observar cada indivíduo em sua pessoa, em seu ser.
Iniciando este caminho de olhar para si mesmo em busca de respostas para entender sua natureza, essência humana, é que surge o problema do homem. Este problema nos impulsiona ao questionamento do qual buscamos responder nesta pesquisa; se o homem, os homens ou ainda, a espécie humana tem uma natureza?
Referente a isto Aristóteles escreveu:

[...] quando dizemos “o homem é músico” ou “o músico é homem”, “o branco é musico” ou “o músico é branco” o fazemos porque, no último caso, os dois atributos são acidentes da mesma coisa, enquanto o primeiro caso o atributo é acidente do que verdadeiramente existe. E diz-se “o músico é homem” porque “musico” é acidente de homem; do mesmo modo diz-se também “o não-branco”, porque é aquilo de que ele é acidente. Portanto, as coisas que são ditas em sentido acidental, o são: (a) ou por serem dois atributos pertencentes a uma mesma coisa que é, (b) ou por se tratar de um atributo que pertence à coisa que é, (c) ou, ainda, porque se predica o que propriamente é daquilo que é seu acidente. [...] tantas são as figuras das categorias quantos são os significados do ser. Porque algumas das categorias significam a essência, outras as qualidades, outras a quantidade, outras a relação, outras o agir ou o padecer, outras o onde e outras o quando[8].

O que podemos entender é que o ser humano tem várias formas de essências, porém, neste sentido de termos ou não, alguma ou algumas características, propriedades que sejam própria da condição humana, e que irá constituir nossa essência, ou seja, que conseguirá fazer-nos distinguir o homem em sua forma essencial e não apenas qualitativa[9] e gradual respectivo aos demais animais. Assim podemos perceber essa diferença gradual entre o homem e os demais animais conforme:

[...] consiste em sustentar que se há diferenças de grau e não de “essência”. Essa reposta foi corroborada pelas pesquisas das quais se conclui que certos traços considerados por alguns como especificamente humanos – a linguagem, ao menos enquanto comunicação; a construção de artefatos; a organização em formas sociais etc. [...] [também] consiste em afirmar que o homem não tem nenhuma “natureza” ou “essência”, seja porque o que ele tem é “história”, infinitamente flexível, seja porque ser homem é “fazer-se homem” ou “fazer-se a si mesmo”.[10]

Enfim, podemos notar que existem vários conceitos que definem a natureza do homem, ou que negam qualquer essência meio ao e no homem. Por meio disso, analisamos que o homem é um ser dotado de vários modos de externalizar o seu existir, daí surgem uma infinidade de termos que trazem uma diferença a ele dos demais seres e de si mesmo quando comparado ao outro individuo:

[...] o homem é um ser que conhece, é um ser racional, é um animal social, é um animal que faz ou fabrica coisas, é um ser que é capaz de “representar”, de “falar” etc. Essas definições tentaram estabelecer a chamada differentia specifica[11] [...] [que] receberam diversas formulações: homo sapiens, homo rationalis, homo socialis[12] [...] etc[13].

Mas mesmo dentro de todas essas considerações que são pré-definidas ao existir do homem, não podemos negar que não exista no ser uma essência, como o pensamento atual propõe-nos, que o homem, o individuo não tem uma essência, mas que cada qual constrói sua própria essência, mas que apesar de não haver uma resposta especifica que determine uma natureza ao homem, devemos conceber que o homem é isto ou é aquilo: um ser racional, um ser social, um ser ético etc., mas o homem é alguma coisa, e o que ou qual seria essa coisa que o homem é? Temos que buscar a resposta que saciará o que nos instiga a realizar esta nossa pesquisa, de uma coisa devemos ter certeza que “sua natureza sempre foi o que é e jamais pode deixar de ser o que essencialmente é[14]”.
Já na Idade Média, mas especificamente na Escolástica, com Tomás de Aquino, a concepção de homem é re-elaborada de forma sabia, onde este conseguiu realizar a melhor síntese referente à antropologia medieval, procurando reconstituir esta concepção nas idéias de Aristóteles, formulando três coordenadas ou concepções para o homem; uma “concepção clássica do homem como animal rationale; a concepção neoplatônica do homem na hierarquia dos seres, como ser fronteiriço entre o espiritual e o corporal; a concepção bíblica do homem como criatura, imagem e semelhança de Deus[15]”.
O que conseguimos perceber com o que já foi pesquisado, é que em Tomás de Aquino, o termo natura[16], foi inserido em sentidos parecidos, e até idênticos aos de Aristóteles, mas também foi empregado em sentidos que dele divergiam[17]. Poder-se-á compreender melhor este termo – natura - dentro do pensamento tomista pelos escritos de Tomás de Aquino (1980, p. 276-277) na Suma Teológica em resposta a definição de natureza de Boécio:

[...] A natureza é princípio de movimento e de quietação no ser em que ela existe essencial e não acidentalmente, como diz o Filósofo. Ora, o conceito de pessoa se realiza em seres imutáveis, como Deus e os anjos. Logo, na definição de pessoa não se deveria incluir a natureza mas, antes, a essência[18].

E a solução que Tomás (1980, p. 278) vem dar nos é:

[...] Segundo o Filósofo, o nome de natureza foi primeiramente imposto para significar a geração dos seres vivos, que se chama natividade. E porque tal geração provém de um princípio intrínseco, estendeu-se êsse nome a significar o princípio intrínseco de qualquer movimento. Nesse sentido é que Aristóteles define natureza. E porque tal princípio é formal ou material tanto a forma como a matéria se chamam geralmente natureza. Completando-se, porém, pela forma a essência de cada ser, comumente se chama natureza a essência, significada pela definição. E é nessa acepção que aqui se toma a palavra natureza. E por isso Boécio, no mesmo livro, diz que natureza é a que informa pela diferença especifica; pois, a diferença especifica completa a definição e é tomada da própria forma da cousa. E portanto, foi mais conveniente usar, na definição de pessoa, que é um ser singular de um gênero determinado, o nome de natureza, que o de essência, derivado de esse, que é generalíssimo[19].

Desta forma entendemos que o termo natura é igual a qualquer coisa neste mundo, conforme Tomás de Aquino, mesmo se independente de ser substância ou acidente[20]. “A substância dita de certo modo; o conjunto das coisas reais enquanto seguem certa ordem, a ordo naturae[21]”.
O que esse “ordo naturae” pode levar-nos a questionar é se há um significado predominante dentro desta ordem de fatores naturais e sensíveis[22]. Partindo do termo inicial, natura, que dá base para o fundamento e surgimento de outros significados sugestivos a substância, encontramos; “[...] natura como princípio intrínseco de movimento; natura como essência, forma, índole etc. de uma coisa; e natura como aquilo que recebeu na Idade Média o nome de [...] ‘Natureza’ enquanto cosmos ou universo[23]”.
Ainda neste contexto que se referem as três concepções de natura, entende-se por cada uma as afirmações que: “no primeiro caso, ele é um conceito da ‘física’ [...] da ontologia da realidade corporal-orgânica; no segundo caso, [...] são conceitos metafísicos. No terceiro [...] o conceito de Natureza é análoga ao de ‘mundo’” [...].[24]
Buscando esclarecer melhor essas concepções de natura, entender-se-á que “no primeiro caso, o sentido de natura é o de um modo próprio de ser das coisas[25]”, ou seja, cada ser, objeto, cada coisa existente tem sua própria identidade, já referente ao segundo caso, perceberemos que natura é “aquilo que constitui certas entidades ou parte dessas entidades [...] [conceitos que tem] correlação com os [...] conceitos metafísicos ou, se se quiser, ‘filosofia primeira’[26]”, ainda no terceiro caso dá-se pela compreensão de natura pelos fenômenos naturais, físicos que se relacionam pelo planeta e o homem.
Contudo, os escolásticos na sua melhor acepção de natura aplicaram este termo a todo tipo de entes[27], ou seja, com isso este termo pode ser justaposto de várias maneiras quando apontado ao ser, ao ente. Logo, não há uma natureza específica, mas elementos cada qual com sua natureza, que estará interiorizado nos seres humanos[28].
Entendemos a partir deste momento que a natureza do homem esta inserida em seu ser, esta se pode manifestar-se das mais variadas formas, porém, não significa que existam varias essências dentro do ente, mas formas de manifestações diversificadas, ou seja, um homem que habita no continente africano expressa sua humanidade de uma forma diferente a do homem que mora no continente europeu, mas nenhum deles deixa de ser um ser humano, participar da essência humanidade.
“Em vista disso, muitos autores a partir de Aristóteles afirmaram que a essência é predicada somente ao universais[29]”, porém isso não nos traz uma resposta ou solução satisfatória a esta pesquisa por afirmar que “a essência é uma entidade abstrata (um universal) [que] equivale a adotar uma posição ontológica [...][30]”.
Segundo Tomás de Aquino, entendemos que “a essência se diz daquilo em razão de que e no que a coisa tem o ser[31]”, lembrando que todas essas definições de Tomás de Aquino se fundamentam dentro do pensamento metafísico do Filósofo.
Quando nos referirmos à Tomás de Aquino e aos pensadores por ele influenciados, no que se diz respeito a essência das coisas, notamos a afirmação de “que não há uma distinção real entre a essência e a existência nos entes criados, mas isso não significa sustentar que a existência seja um mero acidente agregado a essência[32]”, logo percebemos a próxima e bem intima relação entre a essência do homem e sua existência aqui no mundo.
Os escolásticos cristãos mais ou menos avicenianos avaliam que “esse modo de considerar a essência é o modo propriamente metafísico. A essência deve ser tomada em si mesma e não na coisa ou no intelecto[33]”.

Na coisa, a essência é aquilo que por meio do que a coisa é. No intelecto, é aquilo que é mediante uma definição; em si mesma, a essência é o que é. É isso que Duns Scot afirma quando diz que a essência pode ser considerada em si mesma (estado metafísico), no real singular (estado físico ou real) ou no pensamento (estado lógico). Considerada metafisicamente, a essência distingue-se da existência apenas por meio de uma distinção formal.[34]

Guilherme de Ockham afirmou que a essência e a existência não são duas realidades distintas: “tanto em Deus como na criatura não se distinguem entre si a essência e a existência mais do que cada uma difere-se de si própria[35]”. Percebe-se que a natureza humana, mas a natureza divina estão ligadas, mas ao mesmo tempo estão se distinguindo pela realidade existente entre as duas naturezas. “Essência e existência são dois termos que significam a mesma coisa, mas um significa o modo de um verbo e a outra um modo de um nome[36]”.
A essência vista dentro dos pensadores pós-tomistas se dão por meio da natureza divina que relaciona-se com o homem, criatura, ser criado, que difere-se dentro desta realidade existente, mas que participa da natureza metafísica do ser.

























REFERÊNCIAS


Fontes


ARISTÓTELES. Metafísica. vol. II. São Paulo: Loyola, 2002.

TOMÁS DE AQUINO. Suma teológica. vol. I. 2. ed. Rio Grande do Sul: GRAFOSUL, 1980.


Bibliografias


VAZ, H. C. de L. Antropologia filosófica I. 3. ed. São Paulo: Loyola, 1993.

JEAUNEAU, É. A filosofia medieval. São Paulo: edições 70, 1980.

MONDOLFO, R. O pensamento antigo: história da filosofia greco-romana II desde Aristóteles até os neoplatônicos. São Paulo: Mestre Jou, [19--].


Dicionários


ABBAGNANO, N. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

MORA, J. F. Dicionário de filosofia. vol. I. São Paulo: Loyola, 2001.

MORA, J. F. Dicionário de filosofia. vol. II. São Paulo: Loyola, 2001.

MORA, J. F. Dicionário de filosofia. vol. III. São Paulo: Loyola, 2001.

MORA, J. F. Dicionário de filosofia. vol. IV. São Paulo: Loyola, 2001.
[1] Graduando de Licenciatura em Filosofia pela PUCPR – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus Maringá.
[2] CF. ABBAGNANO, 2000, p. 699.
[3] Ibidem.
[4] Cf. MORA, 2001, p. 2048.
[5] Metafísica, 2002, p. 201.
[6] Objeto ou ser no qual esta inserida a essência, substância, que dá origem aos itens destacados; Princípios, Mudança, Crescimento e Movimento.
[7] Cf. MORA, 2001, p. 2048.
[8] Metafísica, 2002, p. 215.
[9] Qualidades atribuídas ou impostas ao homem pela sociedade durante o decorrer da história da humanidade.
[10] Cf. MORA, 2001, p. 1374.
[11] Diferença especifica (tradução própria).
[12] Homem sábio, homem racional, homem social (tradução própria).
[13] Cf. MORA, 2001, p. 1374.
[14] Cf. MORA, 2001, p. 1375.
[15] Cf. VAZ, 1993, p. 69.
[16] Natureza (Cf. MORA, 2001, p. 2048).
[17] Cf. MORA, 2001, p. 2049.
[18] [...] Natura est principium motus et quietis in eo quo est per se, et non per accidens, ut dicitur in II Physic. (lect. I). Sed persona est in rebus immobilibus, sicut in Deo, et in angelis. Non ergo in definitione personae debuit poni natura; sed magis essential (TOMÁS, 1980, p. 277).
[19] [...] Dicendum quod, secundum Philosophum, in V Metaph. (lect. V), nomem naturae primo impositum est ad significandam generationem viventium, quae dicitur nativitas. Et quia huiusmodi generatio est a principio intrínseco, extensum est hoc nomem ad significandum principium intrinsecum cuiuscumque motus. Et sic definitur natura in II Phys. Et quia huiusmodi principium est formale vel materiale, communiter tam matéria quam forma dicitur natura. Et quia per formam completur essentia uniuscuiusque rei, communiter essentia uniuscuiusque rei, quam significat eius definitio, vocatur natura. Et sic accipitur hic natura. Unde Boetius, in eondem lib. (De duab. Naturis, cap. I), dicit quod natura est unumquodque informans speficica differentia: specifica enim differentia est quae complet definitionem, et simitur a propria forma rei. Et ideo convenientius fuit quod in definitione personae, quae est singulare alicuius generis determinati, uteretur nomine naturae, quam essentiae, quae sumitur ab esse, quo est communissimum (TOMÁS, 1980, p. 278).
[20] Cf. MORA, 2001, p. 2049.
[21] Ibidem. Trad. Ordem Natural; entende-se aqui as várias expressões que surgiram referente ao termo “natura”, como por exemplo: natureza intelectiva, natureza social, natureza sensível, espiritual e etc., dentro do período escolástico.
[22] Sensíveis esta relativo à essência das coisas e principalmente a humana.
[23] Cf. MORA, 2001, p. 2049.
[24] Ibidem.
[25] Ibidem.
[26] Cf. MORA, 2001, p. 2049.
[27] Entes criados, não criados, finitos, infinitos, materiais, espirituais e etc. (Cf. MORA, 2001, p. 2049).
[28] Cf. MORA, 2001, p. 2049.
[29] Cf. MORA, 2001, p. 897
[30] Ibidem.
[31] Ibidem.
[32] Cf. MORA, 2001, p. 898.
[33] Cf. MORA, 2001, p. 899.
[34] Ibidem.
[35] Ibidem.
[36] Ibidem.

FRANCIS BACON

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ – CAMPUS MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS APLICADAS E DA SAÚDE
LICENCIATURA EM FILOSOFIA


Docentes: Douglas Blanco; Fernando Félix Rabelo; Franciscarlo de Souza.
Disciplina: História da Filosofia Moderna II


FRANCIS BACON
1561 - 1626

1. Contexto histórico:
1.1. A Inglaterra em um período de transformações;
· A Renascença foi marco decisivo para o homem examinar a natureza.
· A ciência substituiu a religião como rainha do conhecimento, e a razão, que na Idade Média estivera subordinada à religião, afirmou sua autonomia.
· A reforma religiosa: do Catolicismo ao Anglicanismo.

2. Biografia:
2.1. O filosofo e profeta da ciência moderna;
· As influências na vida intelectual e política do arauto da técnica.
· Bacon: testemunha e participante da história de sua pátria.
· O primeiro dos modernos e o último dos antigos.
· O inventor do método experimental (empirismo) e a inutilidade da filosofia escolástica.
· As forças decisivas num conflito é a inteligência e o saber: “saber é poder”.
· Percebeu o poder que a ciência oferece ao homem sobre o mundo.

3. Nova Atlântida:
3.1. A prefigurada e ativa comunidade baseada no controle científico da natureza para o progresso do homem.
· A ciência é a responsável pela organização da cidade.
· A felicidade do homem consiste no controle científico da natureza.
· A Casa de Salomão orienta e dirige o progresso Bensalém.
· A preocupação central e sua finalidade esta em como governar a natureza e dela tirar seu proveito para o bem-estar humano.

4. Referências:
BACON, F. Nova Atlântida.’in’ Os Pensadores. 2.ed. São Paulo: Abril,1997.
______, F. Novum Organum. ’in’ Os Pensadores. 2.ed. São Paulo: Abril,1997.
ABBAGNANO, N. História da filosofia. v. 6. 5.ed. Lisboa: Presença, 2000.
JAPIASSU, H. Francis Bacon: o profeta da ciência moderna. São Paulo: Letras e letras, 1995.
PERRY, M.
Homem em estado vegetativo consegue comunicar

Publicada por Impulsos sexta-feira, 5 de Fevereiro de 2010

Estudo abre portas ao estudo do cérebro. A técnica IRMF «tornará mais fácil aos pacientes expressarem os seus sentimentos e responderem a perguntas difíceis, como a eutanásia», declarou o professor da universidade de Liège, Steven Laureys Um homem considerado em estado vegetativo há cinco anos conseguiu responder com «sim» e «não» a perguntas dos médicos apenas com o pensamento, revela um estudo publicado nesta quarta-feira no New England Journal of Medicine.Em 2003, o homem de 29 anos, cuja identidade não foi revelada, sobreviveu a um grave acidente de trânsito. O paciente, que não pode se mover nem falar, «vive num país da Europa oriental», revela a AFP.
A sua actividade cerebral foi examinada através da técnica de Imagem por Ressonância Magnética Funcional (IRMF) pelas equipas das universidades de Liège e Cambridge. Foi observado que quando lhe faziam perguntas simples, como «o seu pai chama-se Tomás?», ele activava as mesmas áreas do cérebro que os indivíduos normais utilizam.«Ficámos chocados quando vimos os resultados do paciente. Ele era capaz de responder correctamente às nossas perguntas e isso simplesmente modulando os pensamentos, que eram logo descodificados pelo sistema IRMF», declarou Adrian Owen, professor de neurologia da Universidade de Cambridge.
O estudo foi feito com 23 pacientes diagnosticados em estado vegetativo. Em quatro deles (17%) foram detectados sinais de consciência. Pessoas aparentemente em coma «podem ser interrogadas sobre a sua dor», explicou a neurologista de Liège, Audrey Vanhaudenhuyse, destacando, entretanto, que «todos os pacientes em estado vegetativo não estão conscientes».
A técnica IRMF «tornará mais fácil aos pacientes expressarem os seus sentimentos e responderem a perguntas difíceis, como a eutanásia», declarou o professor da universidade de Liège, Steven Laureys.Esta história apela a uma outra revelada há dois meses, de Rom Houben, um belga vítima de um acidente de carro que os médicos consideraram equivocadamente em estado de coma durante 23 anos, antes da equipa do professor Laureys descobrir que ele tinha plena consciência do que ocorria ao seu redor. Este homem, de 46 anos, comunica agora escrevendo palavras num computador especialmente adaptado e já pensa escrever um livro.
Fonte:http://www.tvi24.iol.pt/tecnologia/cerebro-estudo-vegatativo-tecnologia-tvi24/1136753-4069.html